sábado, 17 de outubro de 2015

Na Vitrola: Iron Maiden - Piece of Mind (1983)



Em 1982, o Iron Maiden começa uma nova de sua ascendente carreira, pois o passado recente com os álbuns Iron Maiden (1980) e Killers (1981) seria suplantado com The Numbers of the Beast, que marca a entrada de Bruce Dickinson. A estreia foi bem sucedida com um lançamento clássico, histórico cujas oito faixas são hits. Porém, o ano posterior, 1983, seria também produtivo e ajudaria a consolidar de uma vez por todas a presença de Bruce, em definitivo no posto que antes era ocupado por outro mestre, Paul D’ianno.


O som do quinteto evoluía de um álbum para outro, Steve Harris era um cara que sabia aonde queria chegar. Sonoridade primeiramente influenciada pelo punk, mas com uma dupla de guitarras gêmeas dotadas de talento inigualável, ou seja, virtuose pura é o que se pode sentir de qualquer álbum desse período. O instrumental de velha escola como o baixo pulsante e a bateria certeira e também virtuosa fazem do Iron Maiden uma banda única dentro do jogo do metal.

Talvez não seria possível chegar nesse nível de excelência sem os músicos que Steve Harris reuniu ao seu redor. Adrian Smith e Dave Murray formam uma das ou talvez a maior das duplas de guitarrista de heavy metal, solos complexos e riffs matadores marcam todas as composições todas muito bem trabalhadas, esbanjando a qualidade de ambos em todos os momentos de todas as faixas. As influências não enganam, pois vão especialmente do progressivo de bandas como Nektar e Wishbone Ash e rola até um flerte com o Black Sabbath, mas devemos, nos lembrar, que são apenas modelos usados para Steve Harris esculpir sua obra prima.  

Com a chegada de Piece of Mind, um disco “diferente”, ou seja, mais pesado e assim como os anteriores e especialmente se comparado a seu antecessor nada deve a ele, porém deve-se ressaltar a sonoridade que aparecia mais pesada, mais agressiva e mais melódica, ou seja, houve nítida evolução no som dos caras. Riffs e solos marcantes assim como o baixo e a bateria e o vocal produziram linhas marcantes, que definiram o estilo de compôr, a sua sonoridade, ou seja, finalizaram a construção da identidade da donzela de ferro.

Piece of Mind era um novo clássico recém-saído do forno repleto de diferenciais, que marcam a entrada de Nicko McBrain no lugar de Clive Burr, e assim como o vocalista já chegou marcando presença lançando este clássico álbum. As composições contaram não só com Harris, mas com Adrian Smith e Bruce Dickinson, que não teve como ajudar em The Number of the Beast por chegar ao time demasiadamente tarde para colaborar com qualquer ideia por mínima que fosse. Isto não foi um problema na época, mas quando você coloca Piece of Mind para rodar logo de cara tem a impressão de que tanto este quanto o outros tem o mesmo número de hits.

“When Eagles Dare” abre as sessões de Piece of Mind mostrando porque o Iron Maiden era tão irresistível. O destaque fica na conta de Bruce Dickinson, o cara deixa linhas melódicas e um tom alto de voz, pesado, ou seja, uma característica definitiva que caracterizou o som, as guitarras também recebem os créditos, Dave e Adrian solam a todo o momento. Nicko McBrain e suas quebradeiras são matadoras e fora o baixando pululante e veloz de Steve Harris que não dá trégua e se completa com o baterista. Aqui as letras também amadurecem, o tema é a segunda grande guerra, a estória cá narrada é sobre um ataque a uma base nazista.

A segunda faixa, “Revelations” é outro hit, um hino, do quinteto. O som é mais cadenciado, porém não é menos pesado, veloz em alguns momentos, mas se mantém o clima soturno. Essa é a primeira contribuição de Bruce Dickinson para a banda, o cara conta canta a plenos pulmões colocando nela sua marca registrada, a emoção e a potência de seus vocais. “Flight Of Icarus” tem um dos melhores refrões já vistos no heavy metal, e um forte apelo emocional e dessa maneira é impossível não tê-la na cabeça. Estrutura complexa de guitarras com riffs e principalmente solos bem elaborados desfilando virtuose marcam essa faixa assim como o Nicko McBrain e Steve Harris se destacam nas suas posições, porém o líder provou ser um exímio compositor.     

O quarto posto assumido por “Die With Your Boots On” aparece com riffs na linha do rock and roll, a pegada do Iron Maiden é forte, poderosa e seduz o ouvinte pelo feeling que a faixa transborda, a técnica é a tônica do álbum, mas ela não se resume como uma finalidade em si própria tornando o som não só da faixa único, mas toda a unidade do álbum. A seguir os caras atacam com “The Trooper”, o maior hit não só do disco, mas da história deles em todos os shows ela é presença obrigatória. Os riffs e solos galopantes simulam uma batalha, o clipe mesmo mostra uma batalha, os exércitos se digladiando. Enfim produziu-se a harmonia musical de instrumentos matadora, Steve Harris e McBrain estavam em perfeita sintonia assim como a dupla de guitarristas e Dickinson voando lá nas alturas, ou seja, a usina de ideias do Iron Maiden funcionava perfeitamente e aqui a criação despojada deu origem a uma música empolgante, emocional que cativa logo na primeira nota. 
   
A segunda metade de Piece of Mind mantém a excelência, “Still Life” após a mensagem invertida entra-se num clima ameno, ou seja, “mais leve” em relação às anteriores, mas o padrão de qualidade Iron Maiden alterna esses momentos com outros mais pesados fazendo a música explodir nos refrões grudentos uma característica marcante desse disco. Fora que ainda rola uma pegada nas ondas do progressivo que é a maior influência de toda a discografia até aqui vide a estrutura das composições, o alto nível não só de qualidade mas também estrutural que é altamente complexo. “Quest for Life” é uma faixa incrível por mais que digam que ela é sem sal e, portanto, desinteressante. Bruce Dickinson vai lá nas alturas arregaçando tudo, o cara bota melodia, emoção nas suas interpretações e isso explica por que ele é o cara do Iron Maiden. O ritmo da música é mais cadenciado, porém ainda assim é maravilhoso mas também com Adrian Smith e Dave Murray não tem como ser diferente.     

Ao ouvir “Sun and Still” fica nítido porque uma banda consegue tão sedutora através de tantas melodias, refrões explosivos, guitarras ultra complexas, baixo matador e bateria cheia de viradas e quebradas. O som rápido dessa faixa contém todas essas características elevadas à enésima potência. A exemplo de The Number of the Beast que encerrava com a épica “Hallowed Be Thy Name”, o Iron Maiden dessa vez apostou na mesma fórmula, mas com roupagem sonora diferente, mas mais bem trabalhada, ou seja, toda a técnica e feeling são vistos por aqui através dos riffs, solos das linhas do baixo a da bateria e todas as quebradas e viradas incessantes que a percorrem toda.  

Com esse pacote, o Iron Maiden oferecia aos seus fãs mais do que um simples álbum de heavy metal, ou seja, Piece of Mind trazia no seu bojo múltiplos caminhos e todos eles são infinitos, pois cada faixa tem vida própria e através de suas peculiaridades mostra uma face literária, poética que encontramos nos temas bíblicos e de fantasia narrados em “Revelations” e “To Tame a Land” e nas demais faixas também temos temas interessantes que por si só denotam a evolução não apenas sonora, mas também lírica que é tão importante quando a música já que nada adianta apresentar algo único, original que rompe galáxias cantando mensagens fracas, mastodônticas e podem queimar uma banda.  

Foi assim que o Iron Maiden continuou pavimentado sua estrada, e de clássico em clássico foi mostrando maturidade e evolução singulares transformando-se em mais um dos gigantes que caminharam sobre o globo rasgando os céus azuis para além da Inglaterra e Europa mostrando o que o heavy metal poderia fazer e o que ainda tinha por fazer, mas primeiramente era necessário roubar um pedaço da sua mente e ao invés de lhe dar paz de espírito era necessário injetar adrenalina e causar muita agitação para prepara-los para o terremoto, avalanche que o futuro reservava.   

Lista de músicas:

01 - Where Eagles Dare
02 - Revelations
03 - Flight of Icarus
04 - Die With Your Boots On
05 - The Trooper
06 - Still Life
07 - Quest for Fire
08 - Sun and Steel
09 - To Tame a Land

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