domingo, 18 de outubro de 2015

Na Vitrola: Destruction - Infernal Overkill (1985)


Ao contrario do que se pensa a Alemanha não é somente a terra do Scorpions e do Accept, o país dos germânicos sempre foi um celeiro de bandas. Nos anos de 1970, outras bandas como Eloy, o Lucifer’s Friend entre várias outras faziam um som mais do que atraente, pesado como mandava o figurino. Nos anos de 1980, a coisa explodiu por lá e tantas outras bandas com personalidade própria surgiram como o Cutty Sark, Killing Death, Running Wild e muitas outras que faziam frente aos medalhões de lá.


Só que havia algo ainda inédito por aquelas terras a ser descoberto. O thrash metal nos EUA já era uma realidade através de Slayer e Metallica, os pioneiros, líderes desse novo “gênero”. O Metallica começou tudo com Kill ‘Em All, em 1983, mas foi seguido de perto pelo Slayer que logo em seguida lançou Show no Mercy, mas o Metallica estava em franca evolução musical e em 1984 soltou Ride the Lightining um grande passo a frente. As influências de ambos se faria sentir na Europa, na Alemanha, principalmente, pois da lá também vieram as grandes bandas do gênero que fizeram frente aos americanos.

O primeiro passo dado pelo Destruction foi com o mini álbum Sentence of Death, em 1984. As cinco faixas eram arrasadoras tamanha a brutalidade, o power trio formado pelo guitarrista Mike, pelo baixista Schirmer e pelo baterista Tommy moldou de cara o som do Destruction. Quando você coloca Sentence of Death e passa a introdução já de cara com a insanidade promovida por Total Disaster, um hit, ou seja, um hino da banda e fora a sonoridade que comprova por “A” mais “B” que não limites para o heavy metal que se fundiu perfeitamente com o hardcore dando origem a um som pesado, rápido e extremamente agressivo. Além da desta faixa ainda temos outro hit deste pequeno gigante “Mad Butcher” que se tornou de primeira hora outro grande clássico cuja sonoridade não era menos brutal e aterradora quanto à abertura.

Temas "satânicos" também estavam na pauta e apareceram em “Black Mass” e “Devil’s Soldiers”, o Destruction se colocava no cenário com grande êxito, pois devemos considerar que os seus contemporâneos como o Venom que estava no seu auge havia no ano anterior lançado At War With Satan, enquanto o Bathory estreava com o primeiro disco auto-intitulado e o Hellhammer havia lançado Apocaliptic Raids e depois transformou-se no Celtic Frost e atacou com Morbid Tales e Emperor’s no Retun, ou seja, esse trio já havia conjurados os demônios e nas profundezas preparavam algo muito mais sombrio que seria mais tarde concebido como Death Metal e Black Metal também, ou seja, eram as bases para o que o Mayhem e muitas outras bandas da Noruega fariam no começo da década de 1990.  

O ano de 1985 ainda guardava muitas surpresas e, talvez, tenha sido o ano mais prolifico do gênero em toda a sua trajetória na década. O Venom partia para Possessed, o seu último êxito em estúdio antes de descer a ladeira e vera formação original se desmanchar, o Celtic Frost chegava ao seu auge dando um grande passo a frente com To Mega Therion entrando de vez para o panteão do metal, o Bathory seguia a passos largos o mesmo caminho, pois com The Return mostrou grande evolução baseada na agressividade, na obscuridade de sua sonoridade. Enquanto para o Metallica era um ano de recesso, pois não havia gravado nada e seguiam firmes e forte na promoção de Ride the Lightning, o Slayer voltava à carga com o poderoso Hell Awaits já com os dois pés dentro do thrash metal, ou seja, a evolução do power metal pesado havia completado a sua transição, mas liricamente continuava do mesmo jeito que começou.   

Já na Alemanha, em 1985, o Kreator estreava com Endless Pain, um clássico do thrash metal que os colocava em pé de igualdade tanto com o Slayer quanto com o Metallica ou com o Anthrax, que lançava naquele momento Spreading the Disease e se você quiser pode colocar nessa lista o Exodus e o Possessed ambos estreantes, mas o último estava na mesma linha de Venom, Celtic Frost e Bathory, ou seja, era a resposta à americana aos europeus. Já o Destruction, que apesar de não ser mais um mero estreante estava a caminho de lançar o primeiro álbum full-lenght, os trabalhos rolaram no Caet Studios, em Berlin, Alemanha. Infernal Overkill aterrou nas lojas em 24 de maio de 1985.  

O Destruction seguiu em Infernal Overkill e mesma linha de Sentence of Death, mas o nível das composições mostravam maior evolução se enquadrando dentro do thrash metal. A insanidade e a brutalidade foram levados a níveis ainda mais altos, pois o som ainda estava carregado de letras que tratam de ocultismo, mas nada de culto e sim de criticas a igreja, o sistema político, os alvos preferidos. O disco vem carregado de hits, que marcaram a história do grupo. A abertura fica a cargo de “Invencible Force” cuja bateria insanamente veloz vai abrindo o caminho para riffs pesados que contrastam com a voz rasgada de Schirmer que vai martelando o seu baixo impiedosamente. “Death Trap” é o thrash correria totalmente avassalador com sua velocidade titânica é difícil pinçar alguém para destacar, mas cabe destacar a instrumental da música que apesar de ser veloz, agressiva apresenta momentos levemente cadenciados com as quebradeiras de bateria que atravessam a faixa dizendo o ritmo ensurdecedor, mas os solos de Mike também são matadores, selvagens. 

“Bestial Invasion” é o grande momento do álbum. Depois da cadencia mortal da faixa anterior, a velocidade matadora volta com total força. Vocais rasgados, riffs e cozinha vão derretendo tudo como se fossem um ataque nuclear e nós a última resistência, mas inútil resistir tamanho é o poder da força sonora emana aqui. "Thrash Attack" é uma verdadeira ode ao subgênero, a faixa cai na pancadaria mostrando o que significa o thrash para esses caras, ou seja, arrebatadora. Em “Antichrist” o lado diabólico sai para fora comendo o asfalto e vai derrubando todas as barreiras da consciência te mostrando a podridão do mundo e a descrenças nas instituições falidas descumpridoras de sua função social. “Black Death” cerra as cortinas deste espetáculo mórbido obedecendo a uma linha quase épica, porém violenta como tem que ser o thrash metal.

Não dá para afirmar se a música é ou não uma ciência, mas através dela durante os milênios e séculos os homens expressaram seus mais variados sentimentos, e na Alemanha dos anos de 1980 e do mundo propriamente dito devido a bipolaridade política trazida pela guerra fria pela ameaça iminente de uma guerra nuclear entre comunistas e capitalistas faziam pairar o medo, a incerteza sobre o futuro da vida na terra e, portanto, não é de se admirar composições agressivas que desnudavam o mundo como ele realmente era, ou seja, coloca-se todas as frustrações com as instituições que se furtaram aos seus papéis, responsabilidade social, os políticos enfurnados nos seus palacetes atrás de seus interesses escusos, a religião longe de cumprir com a sua função social, o Black Sabbath em Paranoid já cantava as tristezas e as desgraças do mundo de forma sombria, mas aqui o Destruction e todos os seus contemporâneos levaram as suas insatisfações as últimas consequência no som, no visual e nas suas posturas.

O Destruction continuaria a sua saga, em 1986, com Eternal Devastation levando o nível de suas composições a patamares ainda mais altos, mas com Infernal Overkill, eles mostraram que a Alemanha também tinha bandas a altura dos norte americanos e poderiam brigar em igualdade em todos os quesitos. Aqui está a prova do espírito guerreiro dos alemães que sempre souberam fazer música com originalidade e qualidade supremos, brutais, totalmente irresistível que promoveria uma invasão bestial além das fronteiras de sua terra natal para colonizar os ouvidos, as mentes e os corações de outras nações sedentas pela poesia lírica e sonora declamada de seus instrumentos, que em suas fábricas forjavam os elos de suas correntes e grilhões que expressavam e professavam não apenas um gênero, mas muito mais do que isso estava em curso, ou seja, era o nascimento de uma comunidade poderosa que tinha no neles um de seus xamãs.

Lista de músicas:

01 Invencible Force
02 Death Trap
03 The Ritual
04 Tormentor
05 Bestial Invasion 
06 Thrash Attack 
07 Antichrist 
08 Black Death 


   

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