Eu ouvi e vi
rock pela primeira em 1985 por causa do Rock in Rio, o Brasil estava na reta
final da ditadura militar e muitas coisas depois de janeiro começaram a
acontecer por aqui especialmente por esse evento que trouxe as lendas como Ozzy
Osbourne, AC/DC, Iron Maiden entre outros para tocar por aqui. Depois daí a
minha cabeça mudou, eu estava acostumado a ouvir uma fita velha com o The Last
Command do W.A.S.P e a ler caras como Asimov, Arthur Clark e assistir filmes de
terror nas sessões da tarde e corujão e tudo aqui formava uma massa obscura que
necessitava de outras viagens.
Um dia numa
loja do centro da cidade entrei numa loja de discos e fiquei lá deslizando os
dedos sobre os discos, mas não era a seção de rock e então fui perguntar onde
ela ficava e o cara apontou o dedo para o fundo, no lado esquerdo. Fui passando
os discos e achei um disco com um cara baixinho esganando um baixista, um
baterista atrás tocando em cima de uma plataforma e dos lados dois
guitarristas, mas nem imagina o que era o som daqueles caras e nem sabia
pronunciar o nome da banda e o título do disco. Eu me virei para o vendedor e o
chamei, um cara cabeludo vestido numa jaqueta de jeans recheada de bottons, o
cara parecia uma álbum de figurinhas, e perguntei: Que nome é esse? É rock? É
bom? O cara me disse: É o Accept, é heavy metal. Você quer ouvir? Vai mudar a sua vida,
garoto!
Eu perguntei
o preço e, ele me disse, e na sequência soltou: embrulha? Eu assenti que sim e
pronto lá estava o meu segundo álbum de rock, o primeiro tinha sido o Blizzard of Ozz
do Ozzy Osbourne. Fui para a escola com a sacola e todo mundo ficou olhando,
uma professora viu e já torceu o nariz e perguntou se meu pai deixava-me ouvir
aquilo e eu respondi que sim de uma forma um tanto desafiadora e arrogante, eu
odiava aquela mulher e aquela escola repugnante e não via a hora de ir para
casa ouvir o meu novo disco. O assunto entre os colegas era exatamente sobre o
conteúdo da sacola, eu fiquei mostrando para eles o que eu tinha e eles se
derretiam na capa um tanto violenta, agressiva e alguns até suspiravam
aterrorizados imaginando mil coisas negativas.
Na minha
casa quando fui ouvi-lo, e a música começou com uma cantiga alemã, eu pensei
aquele cara me enganou, e xinguei: desgraçado! Só que de repente parecia que alguém havia
chutado a vitrola e aquele rasgo de quando o disco risca com violência me assustou e
quando me virei, veio o grito e os bumbos , as guitarras, a voz rasgada parecendo uma serra elétrica rasgando o ar e fazendo as caixas e as paredes
tremerem. Eu fiquei aliviado, surpreso e suspirando por ouvir o som mais rápido e
agressivo até aquele momento, um começo especial e avassalador!
“Ahead Of The
Pack” é outro momento sublime do clássico heavy metal. Existe ali uma energia,
um poder de sedução que é inoculado nos ouvidos e espraia por dentro do cérebro
uma suave, doce melodia com riffs, solos e um refrão que cativam logo de
primeira audição e não saem da cabeça. “Shake Your Heads” é um dos vários hits,
ou seja, é um clássico porque é feito de hits é impossível chegar aqui e pinçar
uma ou duas músicas. É um chamado para bater cabeças com os reis do pedaço, um
caminho para a loucura!
Como todas
as bandas tem as suas baladas ou cadenciadas, o Accept mistura esses dois
estilos aqui e arremete diretamente as influências de Judas Priest, mas vai aqui
uma ressalva: é algo original, lindo demais, os refrões são belíssimos na voz
de Udo que também sabe interpretar gêneros, texturas vocais mais suaves,
cativantes que hipnotizam como faz a instrumental aqui, que no final cai numa pauleira
ferrada. “Get Ready” é a retomada das faixas pesadas, mas aqui tem um apelo
mais radiofônico, mas isso não significa que a banda fez qualquer concessão,
muito pelo contrário. Aqui heavy metal é heavy metal e carrega em si todo o
espírito alemão marcado pela dedicação e por isso mesmo assombra peça
qualidade.
A sequência
com “Demon’s Night” vem avassaladora, cadenciada com várias passagens mais
rápidas que de repente voltam a ficar mais cadenciadas e o andamento se alterna
nessas mudanças de ritmo que compreendem riffs, solos e um vocal rasgado
incomum. “Flash Rockin’ Man” é a faixa que compreende o perfeito sentido de ser
do heavy metal e aqui o som é para viajar longe atravessar dimensões e abalar
as estruturas da fundação e trazer o edifício abaixo. O fim começa com classe “Don’t
Go Stealing My Soul Away” já é uma faixa mais light, alegre e mais rock and
roll, porém ainda assim prova o seu valor e é uma ótima momento não deixado cair
à qualidade do álbum e o refrão grudento segura as pontas. Fechando em
definitivo este clássico vem “Princess Of The Dawn” com seu ritmo cadenciado
mais refinado contando arranjos de cordas acústicos acompanhado de uma parte
eletrizante de Wolf Hoffmann, que tocou todas as guitarras e aqui deu um show
particular.
O Accept em
Restless and Wild havia feito a sua síntese, ou seja, havia de fato pego o
caminho certo na estrada do progresso e de I’m Rebel (1980) e principalmente de
Breaker (1981) havia dado os passos corretos que transformaram-nos numa das
maiores sensações do heavy metal fazendo esquecer que a Alemanha só
tinha o Scorpions, que naquela altura levantava altos vôos fora de sua terra
natal com o seu clássico Blackout também lançado em 1982. Dessa mesma maneira mais
tarde saberia-se que nem só heavy metal e a hard rock são os únicos alimentos
para a cabeça coisa que o Kreator, Destruction, Sodom e Tankard mostrariam poucos
anos mais tarde com seu thrash avassalador. O Accept com Restless and Wild pavimentou e sedimentou um belo
caminho que os conduziu a uma época de sucesso e que nesses anos dourados ainda
os permitiria apresentar álbuns como Balls To The Wall (1983)e Metal Heart
(1985), mas ai já é uma história que ficara para outra hora.
Lista de Músicas
01 Fast As A Shark
02 Restless And Wild
03 Ahead Of The Pack
04 Shake Your Heads
05 Neon Knights
06 Get Ready
07 Demon's Night
08 Flash Rockin' Man
09 Don't Go Stealing My Soul Away
10 Princess Of The Dawn
Nenhum comentário:
Postar um comentário