domingo, 4 de outubro de 2015

Na Vitrola: Accept - Restless and Wild (1982)


Eu ouvi e vi rock pela primeira em 1985 por causa do Rock in Rio, o Brasil estava na reta final da ditadura militar e muitas coisas depois de janeiro começaram a acontecer por aqui especialmente por esse evento que trouxe as lendas como Ozzy Osbourne, AC/DC, Iron Maiden entre outros para tocar por aqui. Depois daí a minha cabeça mudou, eu estava acostumado a ouvir uma fita velha com o The Last Command do W.A.S.P e a ler caras como Asimov, Arthur Clark e assistir filmes de terror nas sessões da tarde e corujão e tudo aqui formava uma massa obscura que necessitava de outras viagens.


Um dia numa loja do centro da cidade entrei numa loja de discos e fiquei lá deslizando os dedos sobre os discos, mas não era a seção de rock e então fui perguntar onde ela ficava e o cara apontou o dedo para o fundo, no lado esquerdo. Fui passando os discos e achei um disco com um cara baixinho esganando um baixista, um baterista atrás tocando em cima de uma plataforma e dos lados dois guitarristas, mas nem imagina o que era o som daqueles caras e nem sabia pronunciar o nome da banda e o título do disco. Eu me virei para o vendedor e o chamei, um cara cabeludo vestido numa jaqueta de jeans recheada de bottons, o cara parecia uma álbum de figurinhas, e perguntei: Que nome é esse? É rock? É bom? O cara me disse: É o Accept, é heavy metal. Você quer ouvir? Vai mudar a sua vida, garoto!

Eu perguntei o preço e, ele me disse, e na sequência soltou: embrulha? Eu assenti que sim e pronto lá estava o meu segundo álbum de rock, o primeiro tinha sido o Blizzard of Ozz do Ozzy Osbourne. Fui para a escola com a sacola e todo mundo ficou olhando, uma professora viu e já torceu o nariz e perguntou se meu pai deixava-me ouvir aquilo e eu respondi que sim de uma forma um tanto desafiadora e arrogante, eu odiava aquela mulher e aquela escola repugnante e não via a hora de ir para casa ouvir o meu novo disco. O assunto entre os colegas era exatamente sobre o conteúdo da sacola, eu fiquei mostrando para eles o que eu tinha e eles se derretiam na capa um tanto violenta, agressiva e alguns até suspiravam aterrorizados imaginando mil coisas negativas.

Na minha casa quando fui ouvi-lo, e a música começou com uma cantiga alemã, eu pensei aquele cara me enganou, e xinguei: desgraçado! Só que de repente parecia que alguém havia chutado a vitrola e aquele rasgo de quando o disco risca com violência me assustou e quando me virei, veio o grito e os bumbos , as guitarras, a voz rasgada parecendo uma serra elétrica rasgando o ar e fazendo as caixas e as paredes tremerem. Eu fiquei aliviado, surpreso e suspirando por ouvir o som mais rápido e agressivo até aquele momento, um começo especial e avassalador! 

Rápido e pesado como um tubarão, ou seja, o Accept abria o álbum pulando com os pés no peito de quem estivesse na frente, os alemães foram verdadeiros predadores. “Fast As A Shark” até hoje mexe comigo exatamente como na primeira vez, é uma aula de heavy metal ou melhor speed metal. A segunda faixa é outra expressão do que é o heavy metal, Restless Wild e suas guitarras cavalgadas condutoras do ritmo pesado e alucinante e também vibrante que se repetia, a todo o momento, trazendo tudo abaixo dentro de minha cabeça sacudindo violentamente no ar, eu havia sido catapultado para algum evento dionisíaco e nem sabia, o heavy metal é uma ciência!

“Ahead Of The Pack” é outro momento sublime do clássico heavy metal. Existe ali uma energia, um poder de sedução que é inoculado nos ouvidos e espraia por dentro do cérebro uma suave, doce melodia com riffs, solos e um refrão que cativam logo de primeira audição e não saem da cabeça. “Shake Your Heads” é um dos vários hits, ou seja, é um clássico porque é feito de hits é impossível chegar aqui e pinçar uma ou duas músicas. É um chamado para bater cabeças com os reis do pedaço, um caminho para a loucura!

Como todas as bandas tem as suas baladas ou cadenciadas, o Accept mistura esses dois estilos aqui e arremete diretamente as influências de Judas Priest, mas vai aqui uma ressalva: é algo original, lindo demais, os refrões são belíssimos na voz de Udo que também sabe interpretar gêneros, texturas vocais mais suaves, cativantes que hipnotizam como faz a instrumental aqui, que no final cai numa pauleira ferrada. “Get Ready” é a retomada das faixas pesadas, mas aqui tem um apelo mais radiofônico, mas isso não significa que a banda fez qualquer concessão, muito pelo contrário. Aqui heavy metal é heavy metal e carrega em si todo o espírito alemão marcado pela dedicação e por isso mesmo assombra peça qualidade.

A sequência com “Demon’s Night” vem avassaladora, cadenciada com várias passagens mais rápidas que de repente voltam a ficar mais cadenciadas e o andamento se alterna nessas mudanças de ritmo que compreendem riffs, solos e um vocal rasgado incomum. “Flash Rockin’ Man” é a faixa que compreende o perfeito sentido de ser do heavy metal e aqui o som é para viajar longe atravessar dimensões e abalar as estruturas da fundação e trazer o edifício abaixo. O fim começa com classe “Don’t Go Stealing My Soul Away” já é uma faixa mais light, alegre e mais rock and roll, porém ainda assim prova o seu valor e é uma ótima momento não deixado cair à qualidade do álbum e o refrão grudento segura as pontas. Fechando em definitivo este clássico vem “Princess Of The Dawn” com seu ritmo cadenciado mais refinado contando arranjos de cordas acústicos acompanhado de uma parte eletrizante de Wolf Hoffmann, que tocou todas as guitarras e aqui deu um show particular.

O Accept em Restless and Wild havia feito a sua síntese, ou seja, havia de fato pego o caminho certo na estrada do progresso e de I’m Rebel (1980) e principalmente de Breaker (1981) havia dado os passos corretos que transformaram-nos numa das maiores sensações do heavy metal fazendo esquecer que a Alemanha só tinha o Scorpions, que naquela altura levantava altos vôos fora de sua terra natal com o seu clássico Blackout também lançado em 1982.  Dessa mesma maneira mais tarde saberia-se que nem só heavy metal e a hard rock são os únicos alimentos para a cabeça coisa que o Kreator, Destruction, Sodom e Tankard mostrariam poucos anos mais tarde com seu thrash avassalador. O Accept com Restless and Wild pavimentou e sedimentou um belo caminho que os conduziu a uma época de sucesso e que nesses anos dourados ainda os permitiria apresentar álbuns como Balls To The Wall (1983)e Metal Heart (1985), mas ai já é uma história que ficara para outra hora.    

Lista de Músicas

01 Fast As A Shark 
02 Restless And Wild 
03 Ahead Of The Pack 
04 Shake Your Heads 
05 Neon Knights 
06 Get Ready 
07 Demon's Night 
08 Flash Rockin' Man 
09 Don't Go Stealing My Soul Away 
10 Princess Of The Dawn 

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